Resistência a antibióticos – Qual a responsabilidade do veterinário?
Um paciente com problemas dermatológicos e que, de acordo com os resultados de exames, temos dificuldade em encontrar o antibiótico ideal para o tratamento. Um procedimento cirúrgico, onde há contaminação por uma bactéria muito resistente, dificultando a recuperação e comprometendo o sucesso da cirurgia. Um paciente com alterações orgânicas e, com uma infecção tratável apenas com antibiótico que pode comprometer outro órgão afetado, seja pela senilidade, seja por um câncer, seja por uma hepatopatia avançada.
Diversos são os casos que passam por nossas mãos diariamente, que nos fazem atentar para um problema global. O que era um leque extenso de opções, está se tornando pontual, escasso.
A resistência aos antibióticos está subindo níveis perigosamente altos em todas as partes do mundo, não apenas na medicina veterinária. Novos mecanismos de resistência estão surgindo e se espalhando globalmente, ameaçando nossa capacidade de tratar doenças infecciosas comuns. Uma lista crescente de infecções – tanto na medicina veterinária quanto na humana – está se tornando mais difícil e, algumas vezes, impossível de tratar, à medida que os antibióticos se tornam menos eficazes.
Onde os antibióticos podem ser adquiridos pelos tutores ou pacientes sem receita médica, o surgimento e a disseminação da resistência são agravados. Da mesma forma, em países e locais sem diretrizes de tratamento padrão, sem recursos diagnósticos, os antibióticos são, muitas vezes, prescritos por profissionais da saúde excessivamente e erroneamente para utilização pela população.
Sem uma ação urgente, estamos caminhando para uma era pós-antibiótica, na qual infecções comuns e ferimentos leves podem, mais uma vez, levar o paciente ao óbito. Não é incomum ouvirmos casos de insucesso com relação a infecções hospitalares, não é mesmo?
Precisamos, como profissionais da saúde, atentar ao agravante que é prescrever antibióticos exageradamente e até, erroneamente. Seja por uma facilidade e comodidade ao tutor, seja pela “certeza” do sucesso do tratamento sem a realização de um exame básico. Precisamos atuar com medidas corretivas na nossa prática – usá-los somente quando são necessários para tratar uma condição médica; certificar-nos que tal antibiótico é o mais indicado para tal finalidade; administrar a dose correta, com a frequência e duração corretas e por via apropriada; conversar com os tutores sobre a resistência bacteriana, orientar e certificar-se do entendimento sobre o fornecimento de medicações (dose, frequência, duração de tratamento), bem como solicitar exames e realizá-los com o intuito de direcionarmos o melhor tratamento; relatar infecções resistentes a antibióticos à vigilância. Diariamente, possuímos a capacidade de avaliar e encontrar pontos onde possamos ajudar.
Este é um problema que envolve, não somente nossa classe, mas também médicos e demais áreas da saúde. O combate à resistência aos antibióticos é uma das prioridades da Organização Mundial da Saúde – OMS. Um plano de ação foi montado e endossado na Assembleia Mundial da Saúde, que visa garantir a prevenção e o tratamento de doenças infecciosas com medicamentos seguros e eficazes.
Podemos fazer nossa parte como profissionais da saúde, como cidadãos. Podemos instruir os tutores de nossos pacientes. Podemos contribuir positivamente com este, que pode se tornar um problema mundial em um futuro não muito distante.
Dra. Larissa Seibt
